“The Extra Mile” - o caminho que poucos escolhem

Tatiana Costa
28.04.2025
Mindset

Toda a gente quer sucesso, estatuto, reconhecimento. Quer liberdade, segurança financeira e uma marca que pareça ter nascido pronta. Quer dinheiro suficiente para não ter de olhar para a conta ao final do mês, viajar sem qualquer preocupação e oportunidades que pareçam cair do céu. Quer uma vida mais bonita, mais livre, mais sua.

Mas há um pequeno detalhe que a maioria ignora: querer, toda a gente quer. Fazer por isso? Aí a conversa já muda de figura.

Há uma distância enorme entre querer e estar disposta a fazer o que é preciso, entre dizer “eu sonho com isto” e levantar-se todos os dias para, de facto, o construir, entre idealizar e executar. E é nessa distância que mora o tal “Extra Mile”, o quilómetro extra, aquele pedaço de estrada onde a maioria já desistiu, onde já não há aplausos nem likes. É aí que se faz a verdadeira separação entre quem fala de sonhos e quem os realiza.

O quilómetro extra não é estético, não aparece nos bastidores filmados em slow motion, não se mostra em stories com música inspiradora, não tem filtros. O quilómetro extra dói, é feito de decisões solitárias, de falhas silenciosas, de trabalho sem garantias. É feito de acordares antes de toda a gente, de ficares acordada depois de toda a gente, de acreditares quando ninguém mais acredita. É continuar a andar quando já ninguém está a ver.

No mundo do empreendedorismo feminino, fala-se muito de empoderamento, mas pouco de resiliência. Muita inspiração, pouca responsabilidade. Muita visão, pouca execução. O problema não está em sonhar alto, o problema está em esperar que o sonho se concretize sozinho. Criou-se esta ideia romântica de que basta acreditar muito, visualizar o sucesso e postar com consistência. Mas o universo não trabalha sozinho. Acreditar é o ponto de partida, não é a chegada.

E depois admiram-se. Admiram-se quando os anos passam e continuam no mesmo sítio. Admiram-se quando olham para outras empreendedoras a conquistarem o que sempre quiseram, como se elas soubessem de um segredo oculto. Admiram-se quando percebem que abrir um negócio, sozinhas, não significa automaticamente que vão ser bem-sucedidas. Porque não basta ter uma ideia bonita. Não basta ter bom gosto visual. Não basta tirar um curso de marketing digital e abrir um perfil no Instagram com um logotipo. Ser empreendedora não te faz especial. Ter um negócio próprio não te coloca, por magia, num pedestal. O mercado não te deve nada. O sucesso não te deve nada.

É aqui que entra uma das crenças mais limitadoras dos últimos tempos, a do merecimento mal entendido. “Mas eu mereço, já me esforço tanto, já trabalho tanto…”. Mereces? Com base em quê? No que já fizeste ou no que ainda estás disposta a fazer? No desconforto que aceitaste ou na zona de conforto que manténs? No que sacrificaste ou no que recusas abdicar? O problema não é o merecimento, é a expectativa de recompensa sem resiliência.

A diferença entre quem chega lá e quem passa a vida a sonhar é brutalmente simples, umas estão dispostas a fazer o que ninguém vê. A suportar o invisível. A manter-se no caminho mesmo quando o caminho não está a render. A continuar a aparecer, mesmo quando não há garantias. A diferença é que algumas mulheres perceberam que “The Extra Mile” não é um momento pontual, é um estilo de vida.

Há quem acredite que basta trabalhar “muito” durante um tempo. Que o esforço é uma fase. Que o sucesso é uma linha de chegada. Mas quem realmente caminha o quilómetro extra sabe que não há linha de chegada, só novas etapas, novos níveis, novos desafios. Trabalhar para os nossos sonhos não é um projeto com prazo, é um compromisso vitalício. O quilómetro extra não tem fim. E por isso mesmo, tão poucas o percorrem.

E há outra verdade dura, mas necessária, ninguém vai fazer isso por ti. Podes ter mentoras, apoio, inspiração, mas no fim do dia, és tu com a tua vontade. És tu com os teus medos. És tu a decidir se reclamas ou se fazes. És tu a escolher se te escondes ou se te tornas a influencer do teu próprio negócio. Não no sentido fútil, mas no sentido verdadeiro, seres a porta voz da tua missão, da tua história. Porque se tu não fores a cara da tua marca, ninguém o vai ser por ti. Se tu não acreditares, ninguém vai acreditar por ti. Se tu não apareceres, ninguém te vai descobrir.

E aqui está o que o mercado realmente respeita, consistência, clareza e coragem. A capacidade de te manteres firme mesmo nos dias em que tudo parece estar contra ti. O mercado não quer saber do que achas que mereces. Mas respeita o que fazes por isso. Respeita quem é profissional mesmo sem ter um “grande nome”. Quem cumpre. Quem entrega. Quem honra.

Então decide. Queres continuar a viver na ilusão de que mereces só porque existes? Ou queres realmente levantar-te e caminhar o quilómetro que ninguém quer caminhar? Porque sim, vai doer. Vai cansar. Vai desafiar tudo o que pensavas saber sobre ti. Mas também te vai transformar. Vai ensinar-te mais sobre quem és. Vai mostrar-te do que és feita.

E se estás à espera de motivação, de um sinal, de uma certeza… lamento dizer-te, mas não vai acontecer. Vai haver dias em que só te resta a disciplina. Vai haver manhãs em que só a tua decisão de não desistir te vai colocar de pé. E é aí que se ganha. É aí que se constrói. É aí que te diferencias.

Porque no final do dia, o sucesso não é para as mais talentosas, nem para as mais bonitas, nem para as mais carismáticas. É para as que decidiram fazer o que era preciso, com ou sem vontade. Com ou sem medo. Com ou sem garantias.

O quilómetro extra não tem glamour, mas tem recompensa. E não estou a falar só de dinheiro, nem de status. Estou a falar de paz. De orgulho. De coerência interna. De saberes que estás a honrar o que disseste que querias. De saberes que não traíste os teus próprios sonhos por preguiça, medo ou ego.

Por isso, sim, levanta-te e anda. Faz o que for preciso. Recomeça as vezes que forem necessárias. Porque enquanto outras ainda estão à espera de condições perfeitas… tu já estás a caminhar. E isso, por si só, muda tudo!